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EDUCAÇÃO - A difícil arte de tentar sobreviver aos excessos na Escola Pública da Rede Municipal de Vila Velha

Por / Manu Alves e Luciana Santos - Foto: Adessandro Reis Os professores da Rede Municipal de Vila velha pressentem o amanhecer antes que o despertador toque. Precisam sair cedo, seja de carro/ônibus/carona/bicicleta ou a pé para chegar à escola, não importa os alagamentos, a falta de dinheiro para transporte (que não recebem o suficiente), medo da violência pelas ruas ainda escuras, entre outros tantos medos que fazem parte da sua vida. O café tomado às pressas na sala dos professores (pó e açúcar comprado por eles mesmos), a oração/reza/clamor rápido para sobreviver a mais um dia.
O dia escolar inicia: indisciplina, crianças doentes/famintas/brutalizadas que precisam de atenção, desfasagem escolar, currículo em desacordo com a realidade social dos alunos, projetos-surpresa para dar conta e o assédio nosso de cada dia. Formações inúteis e alienadas empurradas goela abaixo pela gestão. Sim, não bastassem os inúmeros percalços e desafios da profissão docente, suportar o tratamento degradante por parte de algumas chefias na área da educação e em algumas escolas da rede, assim como de colegas de equipe, tornam a profissão totalmente desaconselhável para quem ainda tem ilusões sobre o valor do professor no sistema educacional. O que sabemos, ouvimos e até presenciamos algumas vezes é de estarrecer qualquer um: chefias que gritam, ameaçam, comportam-se como reis e rainhas cujo reino é a escola pública. Com algumas exceções, cumpre dizer. A democracia há muito está enterrada em certas escolas. Alguns têm medo de denunciar, outros sabem que não adiantará nada, outros preferem não perder a saúde sendo perseguidos. Há ainda aqueles que desistem de esperar que os gestores tenham posturas compatíveis com o serviço público, pois podem ser demitidos (DTs), perder extensões ou serem enviados para outras escolas (efetivos). Tudo pelo prazer desses reizinhos sem limites. A civilidade e boa convivência no setor público é manchada por esses pseudo gestores e seus apoiadores que fazem da escola uma fábrica de doenças mentais e psicológicas, produzindo ativamente: depressão, transtornos de ansiedade, pânico e estresse exacerbado. Na prática, o convívio diário é marcado pela vigilância aos que resistem, suas falas podem ser distorcidas e expostas diante da equipe, sendo rotulados como problemáticos, incompetentes, criador de casos ...etc., tendo sua reputação abalada junto às famílias dos alunos e da comunidade escolar. Assim, a pressão psicológica cotidiana a que o professor é exposto, prejudica sua saúde física e mental, tornando-o incapaz de cumprir seu trabalho com excelência. Quando já está doente, é tratado como incômodo no ambiente escolar, se for readaptado, é tratado pior como invisível. Quando há falecimento de colegas: acidentes, doenças causadas por estresse, suicídio e outros, o assunto é tratado como se nada tivesse acontecido. Alguns lamentam, outros criticam e um novo servidor chega para substituir a “peça “quebrada da engrenagem escolar. É importante frisar que as propagadas maquiam o que acontece dentro das escolas. Em contrapartida anunciam projetos pedagógicos que maquiam essa realidade, anunciando os espaços escolares como democráticos, abertos aos diálogos, acolhedores, potencializadores de talentos. Apesar de tudo, continuamos a ser: psicólogos, babás, advogados, assistente sociais, enfermeiros, conselheiros e até parentes postiços de alunos. Os "aplausos" por tanto trabalho, vêm em forma de assédio moral (está querendo aparecer), desvalorização (escolheu ser professor para quê? Agora aguenta), humilhação por parte das famílias (quem você pensa que é para dar suspensão no nosso anjinho?). E se ficar doente... ah, se ficar doente: Você é preguiçoso, inútil, não ama a profissão, está fingindo, está querendo levar vantagem e está reclamando do ticket menor por quê? Doente não come. E se não adoece, mas tem ideias incríveis para a educação (você reclama demais para ser considerada), você é amiga de fulano ou fulana? Suas ideias não prestam. O professor de Vila Velha parece uma árvore que tem aqui perto de casa: jogam lixo, tacam fogo, cortam os galhos, mas ela está lá firme e forte diante da minha janela todos os dias. Assim como nós vigiamos a árvore, entramos na mata pegando fogo e o apagamos (idosos, crianças e mulheres cansadas). Brigamos com quem joga lixo lá e fazemos tudo para manter a árvore de pé, acredito que nós professores ainda não caímos derrotados, porque há quem lute conosco.
Para encerrar, acreditamos firmemente que, com boa liderança política, esse quadro catastrófico pode ser revertido á medida que selecionarem a dedo os gestores de escola com perfil democrático dialógico e que compreenda as dimensões do serviço público. Que haja tempos de autocuidado, de pesquisa, de formação adequada à realidade de cada região do município. Que haja valorização dos profissionais, com ação imediata frente aos gestores que não cumprem seu papel. Isso em toda a abrangência da pasta da educação na cidade de Vila Velha. Cosipa e PAD também devem ser usados contra os que nos matam usando conta gotas dentro das escola. Até que ponto quem está no comando tem condições liderar um corpo docente tão necessitado de dignidade . Não está tudo bem. E não vamos deixar a história apagar o que estamos vivendo hoje na rede pública de ensino de Vila velha como servidores e professores.